domingo, 2 de setembro de 2012

Personalidade Perversa em Palavras


Algumas palavras traduzem curiosas características do comportamento humano. Adjetivos como maquiavélico, narcisista e sádico são usados com relativa frequência no linguajar do cotidiano e possuem origens bastante interessantes do ponto de vista histórico-cultural.

Maquiavélico

Hal Jordan
(Crepúsculo Esmeralda)
O maquiavelismo foi um sistema político defendido por Nicolau Maquiavel, que consistia em afirmar que o Estado usasse de todos os meios para alcançar seus objetivos, ainda que fossem pérfidos, inescrupulosos e imorais, pois "os fins justificam os meios". Ser maquiavélico indica ter propósitos firmes, mas também faz referência à maldade, crueldade e injustiça; esses últimos são significados posteriores a Maquiavel, pois o significado do termo passou por transformações desde que as ideias do escritor italiano foram apresentadas em sua obra “O Príncipe” (escrito em 1513 e publicado em 1532). Essas metamorfoses se deram por algumas ideias expostas na obra, de cunho realista, como a afirmação de que "é muito mais seguro ser temido do que ser amado; os homens são capazes de ofender a quem amam, mas não tem coragem de ofender aquele que temem, pois este poderá castigá-los”. Entretanto, no sentido empregado por Maquiavel, ser maquiavélico não implica em ser desleal, malévolo, fingidor, perverso e enganador.

Narcisista

O termo Narcisismo se originou do mito grego do jovem Narciso que rejeitou uma ninfa chamada Eco. Não obtendo seu objeto de desejo, Eco o amaldiçoou a apaixonar-se por sua própria imagem. Narciso acabou cometendo suicídio por não conseguir satisfazer sua paixão. Esse termo, tomado emprestado inicialmente por Freud, está relacionado à sexualidade quando visto através da psicanálise, usado quando o indivíduo afirma a imagem de seu corpo como sendo sua imagem psicológica. O narcisista caracteriza-se pela autoidolatria, exaltando superioridade no que diz respeito ao seu corpo. Entretanto, essa palavra também é bastante usada para indicar vaidades intelectuais, assemelhando-se ao egocentrismo e ao egoísmo.

Eco e Narciso, de John William Waterhouse

O mito de Eco revela que a pior prisão é aquela em que o ser humano não pode expressar o que pensa ou o que sente; é a tortura de conviver com seus pensamentos e sentimentos presos pelo medo ou pelas convenções ameaçadoras.

Masoquista

Entende-se por masoquismo o distúrbio psicológico de busca pelo prazer sexual ao sentir dor através do castigo físico ou, num sentido mais amplo, diante da humilhação verbal. O termo deriva de Leopold von Sacher-Masoch (1836-1895), o escritor do romance A Vênus de Peles (1870), que possui um personagem atingindo o orgasmo quando surrado. Segundo Sacher-Masoch “o amor não permite igualdade entre os parceiros; se tivesse de escolher entre dominar e ser dominado, acharia sem dúvida a mais deliciosa escolha ser o escravo de uma bela mulher”. Supõe-se que essa perspectiva pode ter surgido

“… ainda durante a infância, quando se apaixonou por uma tia. Certa vez, escondido entre os casacos de pele de um armário, ele a viu copular com um amante. O casal o descobriu e o resultado foi uma surra a que parece ter associado para sempre em sua personalidade uma confusa mistura de excitação sexual, sofrimento físico, humilhação e as sensações eróticas das peles durante a parte mais prazerosa do episódio”. (Dicionário da Vida Sexual, volume 2)


A palavra masoquismo foi definida pelo psiquiatra alemão Krafft-Ebing, estudioso do comportamento sexual. Segundo ele é “a tendência compulsiva a buscar ou experimentar prazer sexual no próprio sofrimento, físico ou moral”. Alguns casos apresentam satisfação, não na violência corpórea, mas da sensação de inferioridade diante do parceiro sexual.

Sádico

Before Watchmen
A palavra Sadismo advém do nome e atitudes da personalidade conhecida como Marquês de Sade, cujo nome verdadeiro era Donatien Alphonse François de Sade (1740-1814). Donatien era filósofo e escritor, e seus livros tinham sempre uma inclinação sexual, desafiando o puritanismo da época e destilando severas críticas às personalidades políticas e eclesiásticas da elite francesa.

Apesar da maioria das pessoas serem induzidas a lembrarem do termo para seu uso relativo ao ato sexual, a aplicação dele é bem mais abrangente. O sádico é aquele que se satisfaz com o sofrimento alheio, que sente prazer em observar ou causar este sofrimento, seja ele físico ou psicológico. Quando referido ao sexo, compreende a excitação pela submissão do(a) parceiro(a). O sádico sexual encontra aceitação em indivíduos masoquistas, numa tendência chamada sadomasoquista. De acordo com o site Sexualidade& Vida, O Sadismo Sexual geralmente é crônico. Quando praticado com parceiros que não consentem com a prática, a atividade tende a ser repetida até que o indivíduo com Sadismo Sexual seja preso. Alguns indivíduos com Sadismo Sexual podem dedicar-se a atos sádicos por muitos anos, sem necessidade de aumentar o potencial de infligir sérios danos físicos. Geralmente, entretanto, a gravidade dos atos sádicos aumenta com o tempo. Quando o Sadismo Sexual é severo, e especialmente quando está associado com Transtorno da Personalidade Anti-Social, os indivíduos podem ferir gravemente ou matar suas vítimas.

Voyeur

O tema voyeurismo refere-se a prática de obter prazer sexual através da observação de outras pessoas sem qualquer consentimento, que estejam envolvidas em atos sexuais, nuas, em roupa interior, ou com qualquer vestuário que seja apelativo para o voyeur. A principal característica é o não envolvimento do indivíduo. O assunto é bastante usado no cinema, onde se destacam nomes como Alfred Hitchcock (Janela Indiscreta), Brian De Palma (Dublê de Corpo) e Tinto Brass, em praticamente todos os seus filmes.

O Voyeur, filme de Tinto Brass

Essa tendência, assim como qualquer outra, só é considerada uma perversão se a pessoa sente prazer apenas dessa maneira e de nenhuma forma mais comum. Um psicanalista alemão, Otto Fenichel, atribuiu ao fato da criança testemunhar (vendo ou ouvindo) uma relação entre os pais como possível razão para o voyeurismo.